Perdidos pela Esperança

Uma livraria centenária é a maior da Europa com livros expostos pela capa. Uma verdadeira viagem pelo mundo da literatura.

 
 
O sensor de presença anuncia a chegada. O corredor encaminha a descoberta pelo livro desejado. No lado direito da parede, desse mesmo corredor, estão expostas informações acerca do espaço e ao fundo, no topo da parede, está o quadro com a fotografia de quem o fundou. É assim que começa a visita por quem passa pela Fundação Livraria Esperança.
 
Cátia Câmara, bisneta do fundador e gerente da livraria, conta à Essential que tudo começa em 1886 com Jacinto Figueira de Sousa, o primeiro livreiro madeirense, que aos 26 anos abre a Livraria Esperança numa casa situada na Travessa do Nascimento. O estabelecimento comercial foi pioneiro no Funchal e na Madeira a vender unicamente livros, dado que nos outros espaços eram feitos juntamente com outros artigos. Para além desse negócio, também compra uma tipografia com o mesmo nome, na Travessa do Forno.
 
Após o falecimento do fundador em 1932, a Livraria Esperança é continuada pelo filho José Figueira de Sousa e muda-se para a Rua dos Ferreiros, onde hoje ainda funciona. Em 1938, depois de ter permanecido alguns anos num edifício na Rua da Alfândega, a Esperança regressa à Rua dos Ferreiros.
 
Já na terceira geração é com a orientação de Jorge Figueira de Sousa e a sua esposa, Maria Lurdes, que a livraria requerendo mais espaço, muda em 1973 para o n.º 119 da Rua dos Ferreiros, chamado de escritório. Na altura, com 12 mil livros, era a terceira maior livraria do país em termos de oferta disponível.
 
Em 1991 e de forma a perpetuar o legado da família, foi criada a Fundação Livraria Esperança – Instituição Particular de Solidariedade Social que com metade dos rendimentos a distribuir da livraria oferecem livros às crianças do Arquipélago da Madeira e promovem o hábito de leitura.
 
Cinco anos depois é adquirido um antigo palácio do século XVII em frente às suas instalações na Rua dos Ferreiros 154 a 162, onde funciona hoje em dia a Livraria. O espaço que se denominou sucursal tinha disponíveis 40 mil títulos diferentes expostos de capa. Passando a ser a maior livraria do país com mais do dobro de títulos da que lhe seguia.
 
Atualmente a livraria, constituída por uma equipa de 10 pessoas, tenta trabalhar sempre com a maior parte das editoras a nível nacional, como garante Cátia “fazemos sempre os possíveis para atender qualquer pedido dos nossos clientes. Às vezes temos editoras a perguntar se possuímos determinado livro que publicaram e muitas vezes temos.”.
 
Após obras de recuperação e de alargamento, a Esperança tem cerca de 1.200 m2 e mais de 107 mil livros diferentes, de cerca de 70 géneros, expostos pela capa edistribuídos ao longo de 22 salas e três andares. Apesar das modificações realizadas, a arquitetura original manteve-se intata. Exemplo disso mesmo é o teto da sala de História, no 2.º andar ou a janela vitral ao subir o lanço de escadas que dá acesso ao 3.º andar.
 
Outros fatos curiosos são partilhados por Cátia Câmara que afirma que “quando o exército inglês esteve cá durante a ocupação da Madeira em 1801/1802, esta foi a residência dos oficiais e as portas da entrada principal que temos hoje foram descobertas na parte de trás do prédio num descampado. Eram as portas do Antigo Batalhão, onde fica o Colégio dos Jesuítas.”.
 
Não só pelo património histórico e arquitetónico, mas também pela vasta diversidade de livros, entre os quais preciosidades literárias como a “História da Descoberta das Ilhas”, escrito na Madeira em 1926 pelo açoriano Marquês de Jácome Correia, são algumas das razões para visitar a maior Livraria da Europa com livros expostos de capa.