O novo Oxalis

O restaurante da Casa Velha do Palheiro abriu a cozinha e mudou o conceito, lançando o Oxalis, inspirado numa flor que decora o relvado da propriedade

 

No relvado diante da Casa Velha do Palheiro, há uma planta que teima em sobrepor-se à relva. Na primavera e início do verão exibe as suas flores, algumas amarelas, mas maioria num tom de rosa. Estas plantas são do género botânico Oxalis e o nome foi aproveitado para o renovado restaurante do único hotel da Madeira que pertence à marca Relais & Chateaux.

A cozinha aberta é a montra do novo conceito. É onde a equipa finaliza os pratos e interage com os clientes. Foi a prenda para assinalar os 220 anos de construção da casa inicial, então um pavilhão de caça na Quinta do Palheiro, a propriedade de João Sá Machado, que viria a ser o 1.º Conde de Carvalhal e o homem mais rico de Portugal.

No lugar da casa original nasceu, no final do século XX e já pela mão da família Blandy, o hotel. E o restaurante, com uma decoração clássica, tem agora uma cozinha que lhe acrescenta contemporaneidade. Por isso o nome é novo, para justificar o conceito, desenvolvido pelo chefe Gonçalo Bita Bota: um restaurante de fine dining, sustentável, com uma técnica marcadamente francesa, com influências de Espanha e do Reino Unido, mas que aposta em utilizar o máximo possível de produtos locais da Madeira.

A nova cozinha até tem a mesa do chefe, na verdade um balcão, onde até quatro clientes podem experimentar um menu de inspiração, baseado nos gostos de cada um e na inspiração do chefe.

Mas Oxalis não é a única flor do restaurante. Cada um dos menus apenas é utilizado em dois dias da semana e todos têm nomes florais e um conjunto de 13 pratos: cinco entradas, cinco pratos principais e três sobremesas. A ideia é que o cliente escolha uma opção de cada.

À segunda e à terça-feira é servido o menu Camélia. À quarta e à quinta a cozinha prepara o menu Agapanto. Ao sábado e domingo há espaço para o menu Glicínia. A diferença está na sexta-feira, o dia reservado ao menu de degustação, uma experiência com sete momentos, com a assinatura do chefe.

Em qualquer um dos dias a equipa procura inovar. Seja com uma lula que ganha uma forma gelatinosa, ou com uma terrina de atum, ou até uma truta da Madeira com gelado de funcho, ou o muito especial prato de assinatura de Gonçalo Bita Bota, uma versão do Bife Wellington, neste caso sem presunto, nem mostarda e envolto em couves.

Mas também se encontra criatividade no pão de fermentação natural e sobretudo no brioche de algas, uma criação da cozinha do Oxalis, ou numa sobremesa que mistura chocolate e sabor a eucalipto e pinheiro.

Opções não faltam. E variam com as estações do ano ou com a inspiração. A cozinha aberta é uma vantagem, um teatro onde se movimentam atores e um espetáculo extra para os clientes, com o bónus de, de quando em vez, o chefe vir à mesa, explicar uma técnica, ou fazer uma finalização.

De resto o Oxalis é herdeiro do Casa Velha Dining Room, um restaurante clássico, com um serviço atento aos detalhes e com muito calor humano. Isso mantém-se. Na sala a simpatia é uma marca, até porque se torna necessário para ajudar a compreender os pratos, ou para trocar dois dedos de conversa acerca dos vinhos, que podem ser servidos em pairing com os pratos, com a particularidade de ser uma combinação que se adapta ao gosto do cliente.