It’s five o’clock!

O chá do Reid’s é um ritual com mais de 120 anos que se tornou numa imagem de marca do hotel e numa referência para a Madeira.

Honoré de Balzac escreveu que os “grandes casos amorosos começam com champanhe e terminam com tisanas”. Se o falecido escritor francês, tivesse usado a palavra chá em vez de tisanas, bem se poderia imaginar que a frase podia ter sido escrita no terraço do Belmond Reid’s Palace.

O chá é um dos acontecimento que faz do Reid’s ser isso mesmo… o Reid’s. É um emblema, um símbolo, mas também uma experiência. Pela varanda com vista para baía, ou no terraço do chá, em tempos mais remotos, já passaram figuras do século XIX e do século XX, como a antiga primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que de férias na ilha para celebrar os cinquenta anos do seu casamento, foi convidada pela direcção do hotel para participar desta experiência.

Pelo hotel, fundado em 1891, passaram algumas das mais ilustres personalidades dos séculos passados, como a Imperatriz “Sissi” d’ Áustria, o antigo primeiro-ministro britânico Winston Churchill ou o poeta e actor George Bernard Shaw, a primeira pessoa a ganhar um Nobel e um Óscar.

O hábito nasceu com o hotel, como parte de um serviço que procurava satisfazer os elevados padrões de exigência dos viajantes da belle époque, uma altura em que viajar começava a ser cada vez mais comum na Europa. Sendo a maioria dos clientes de nacionalidade inglesa, o Director Geral, Ciriaco Campus, recorda que o chá era “um compromisso quase imperdível”.

Podia ser tomado exactamente às cinco da tarde ou durante a tarde, até às cinco. A vasta colecção de fotos antigas do hotel mostram como era um acontecimento diário socialmente importante, que em alguns momentos do ano era transformado num chá dançante.

Nos dias de hoje o chá continua a ser pontualmente servido. Os clientes são recebidos por um copo de champanhe, introduzido no ritual por estar associado à ideia de celebração. Esta é, segundo Ciriaco Campus, uma maneira de “honrar a tradição”. Em 2011 o ritual do chá do Reid’s foi imortalizado através do livro “I had tea at Reid’s”, em português Eu bebi chá no Reid’s, de Andreas Augustin.

Para o jornalista austríaco vir à Madeira e não beber chá no Reid’s é como viajar até Viena e não experimentar a Sacher Torte, ou visitar as Grandes Pirâmides de Gizé e não ficar no Hotel Mena House.

Isabel de Portugal, relações públicas, revela que todos os dias passam pelo terraço do chá pessoas cujos pais ou avós foram clientes do Reid’s. Chegam movidos pela tradição. Alguns reservam a mesa com anos de antecedência, para que nada falhe na experiência de estar naquela varanda com vista para a baía do Funchal.

Por respeito pela tradição, continua a ser pedido algum formalismo aos clientes na forma de vestir. Isabel de Portugal afirma que “para muitas pessoas que vêm à Madeira e ficam em outros hotéis, a parte alta da estadia” é estar envolvido nesta mística que existe à volta do chá.

Ao som de um melodioso piano, a escolho da infusão propriamente dita não é difícil. Romeu Miranda, responsável pelo serviço, explica que a maior parte das pessoas escolhe o chá preto do Reid’s “por estar associado à casa” e o Gorreana, dos Açores, “por ser bem português e ainda desconhecido lá fora”. Mas existem várias outras opções.

O serviço inclui as sandes com camarão, abacate, ou creme filadélfia com salmão fumado. Entre estas delícias estão os scones, acabados de sair do forno, acompanhados por compotas locais que deixam “água na boca”. Fisálias com maracujá, doce de tabaibo, de morango e de uva americana, misturam-se com a textura dos scones e aquecem o estômago. São ainda servidos alguns bolos confeccionados no próprio hotel, tal como alguma pastelaria local.

O chá chegou à europa pela mão dos portugueses. Longe estavam de imaginar a importância que iria adquirir, quando em 1557 iniciaram o transporte para a Europa (utilizando o porto de Macau), nos séculos seguintes.

Começaria a ser comercializado e consumido em alguns lugares do Velho Continente, durante o século XVII, nomeadamente na Holanda e na Inglaterra, porque se dizia que as ervas teriam propriedades regenerativas. Até então, não existia um ritual associado à bebida. Foi após a chegada da princesa portuguesa Catarina de Bragança a solo inglês, que toda a mística em volta do chá foi criada.

Introduzido na corte britânica, rapidamente passou a ser um assunto de estado, após a rainha de origem portuguesa ter instituído que deveria ser consumido todos os dias, exactamente às cinco da tarde.

Com a expansão marítima britânica, a cultura e os seus hábitos foram levados um pouco por todo o mundo. A Madeira não foi excepção.

A ilha portuguesa, que era um ponto de passagem no oceano para o outro lado do Mundo, absorvia um pouco de toda a cultura e diversidade que chegava ao porto. Aquando das ocupações britânicas em 1801 e 1807, os costumes e os rituais ingleses acentuaram-se na região, incluindo o do chá.

Beber chá no Reid’s é fazer parte de uma tradição centenária, que se repete um dia após o outro, a caminho da imortalidade. É sentar-se numa varanda sobre o Atlântico, em cadeiras cheias de estórias e lugares, a saborear um soberbo chá. É sentir-se parte da história, na companhia da vista sobre o Funchal!