O Gin está definitivamente na moda!

Não há dúvidas de que o já muito falado renascimento do Gin está agora a caminho.


Como as coisas mudam em 15 anos. Antes, se bebesse gin, era provavelmente um indivíduo de meia-idade, algo conservador, que bebia gin sob a forma de um inflexível Gin Tónico antes do jantar ou de um Martini seco nas ocasiões especiais. Não que tivesse outra escolha. Na sua garrafeira local, encontraria uma selecção limitada de marcas tradicionais, como a Gordon’s ou a Beefeater, e talvez a Bombay Sapphire, se estivesse numa loja mais requintada. No seu bar local, serviam-lhe um Gin Tónico de má qualidade ou um Martini Rosso. 

Se fizermos um fast-forward para os dias de hoje, a oferta é quase inacreditável. Não só o gin é bebido por muito mais gente, como também surgiu uma gama crescente de marcas dispostas a agradar os clientes. O mesmo acontece nos bares de cocktails, onde os empregados de bar caíram de amores pela bebida e encheram as prateleiras com uma vasta gama de gins com rótulos apelativos, que são depois extensivamente listados nos menus de cocktails à base de gin. 

A que se deve esta mudança? Porque é que o gin se mudou dos clubes de golfe para os clubes nocturnos e se tornou na escolha de eleição da elite cool? A resposta reside na capacidade incansável do gin para se reinventar desde o começo, desde os dias em que era encarado como uma “dose de coragem num copo” para acalmar os nervos durante batalhas do século XVII

Os últimos verdadeiros dias de glória do gin foram nos anos 1920, durante a era da novidade, e, para uma certa classe, a era dos primeiros clubes nocturnos, das primeiras celebridades, dos aristocratas e boémios e das intermináveis festas alimentadas por cocktails à base de gin. 

A predominância do gin durou até aos anos 1950 e inícios da década de 1960, uma altura em que provavelmente cerca de metade das listas de cocktails eram constituídas por bebidas à base de gin. 

O gin era uma epítome do glamour: até esta data, o último take de todos os filmes de Hollywood era ainda chamado “o plano do Martini”. Depois veio a era da vodca e o gin começou a ser visto como algo antiquado, que os nossos pais bebiam. O que mudou foi o reaparecimento da cultura cocktail no anos 1990, o lançamento do Bombay Sapphire direccionado especificamente para os connoisseurs que valorizam a autenticidade e a tradição. Agora, há toda uma nova geração que está a redescobrir o gin como o derradeiro ingrediente em cocktails, como algo associado aos gloriosos dias de outrora, tão bem representados em séries televisivas como Mad Men. 

Como era de esperar, as destilarias tiveram uma resposta rápida. A acção concentra-se agora no segmento premium do mercado e na qualidade. 

Existem duas razões principais para este boom: uma é a tendência para que as pequenas destilarias independentes produzam pequenos lotes de gin artesanal; a outra consiste nos grandes players do mercado, que estão a lançar extensões das suas marcas de luxo. Há bom senso comercial por detrás de ambos os raciocínios, uma vez que o gin é relativamente fácil de produzir. Trata-se, basicamente de uma bebida alcoólica de alta qualidade, neutra e produzida a partir de cereais, redestilada com uma selecção de sabores botânicos, entre os quais o zimbro, que é normalmente, mas nem sempre, predominante. 

Mais importante: não precisa de ser envelhecido. Apesar de quase todos os gins incluírem as ervas aromáticas clássicas mas em proporções diferentes - bagas de zimbro, coentros, casca de citrinos, angélica e raiz de lírio-, cada gin te uma receita botânica diferente, o que explica o motivo pelo qual todos têm diferentes sabores. Existem várias formas de fazer um gin destacar-se, quer seja pelo menos uso de ervas picantes muito usadas, como a casca de cássia, cardamomo e canela, ou alternando como ervas mais leves e florais, como o sabugueiro e a ulmeira. 

No coração do movimento artesanal do gin estão as pequena destilarias londrinas, como a Slipsmith e a Sacred Spirits, que produzem excelentes gins. Estes foram já adoptados pelos bartenders londrinos, que estão a receber de braços abertos o movimento gastronómico local. 

Ainda em Londres, irá encontrar o Ginstitute, um pequeno museu dedicado ao gin situado por cima do The Portobello Star, na Portobello Road, onde poderá fazer o seu próprio gin. Os proprietários, Ged Feltham e Jake Burguer, lançaram recentemente o Portobello Road No.171, um gin nascido das suas próprias experimentações e agora produzido comercialmente pela destilaria Thames Distillers, em Clapham. 

Existem também negócios familiares rurais de sucesso, como a Bramley and Gage, que fabrica um gin tradicional com óptimo sabor chamado 6 O’Clock, e a Foxdenton Estate, com o seu equilibrado mas forte 48, bem como uma game de gins com sabor a fruta. Entre os novatos no panorama do gin estão ainda a Berry Bros. & Rudd, que está a ter grande sucesso com o seu No.3 Gin, e a Wemyss Malts, que utiliza os sabores florais do sabugueiro no Darnley’s View, e está prestes a lançar uma versão mais picante para a produção de cocktails de Inverno. Além disso, existe ainda o esplêndido Fifty Pounds Gin, feito a partir de três ervas secretas. 

As destilarias de gin já estabelecidas no mercado estão também a aproveitar esta nova onda. A Beefeater e a Tanqueray têm versões super premium, como o Beefeater 24, produzido com chás japoneses e chineses, e o Tanqueray 10, que adiciona citrinos frescos (e não casca seca) à mistura botânica. O Beefeater 24 foi desenvolvido especificamente para ser usado em cocktails mais leves e cítricos, feitos à base de chá, enquanto o Tanqueray 10 foi lançado já a pensar numa nova gama de Martinis. Mas, o gin mais premium em termos de preço é o Oxley Classic English Gin da Bacardi, que também produz o Bombay Sapphire. 

As destilarias de whisky escocesas também estão ocupada a aplicar o seu conhecimento ao gin: a Hendrick’s Gin, detida pela William Grant, está a ser pioneira ao incorporar infusões rosa e pepino. Na sua receita botânica, o Caorunn Gin, dos especialistas em whisky de malte da Inver House Distillers, e o The Botanist, da Bruichladdich, sedeada em Islay, contam com ervas produzidas localmente e bagas, sendo que ambas as destilarias foram bem-sucedidas na produção de gins distintos, com um carácter escocês único.
E, se a derradeira forma de servir gin será foi e sempre será o Gin Tónico, agora também há uma nova forma de o fazer, pelo menos ao estilo espanhol: num grande copo balão e decorado com fruta, como é cada vez mais visto nos bares de Londres. Existem ainda outras formas de combinar estes novos gins, como o Elderflower Collins, uma mistura de gin, sumo de limão, concentrado de sabugueiro e água gasosa. Outra grande tendência são os cocktails à base de chá, como o Early Grey MarTEAni, uma delicada mistura de gin com infusão de chá Earl Grey, açúcar e sumo de limão, misturado com clara de ovo e guarnecido com raspa de limão. 

Uma coisa é certa - a originalidade dos empregados de bar continua a manter-se a par e passo com a criatividade das destilarias. Brindemos a isso.
 
* A autora, Geraldine Coates, escreve sobre gin e é autora do livro The Mixellany Guide to Gin. É também editora do gintime.com, o primeiro site do mundo dedicado inteiramente ao gin.