Uma quinta com história

Ao longo de quase dois séculos a Quinta Magnólia foi um lugar de eleição, primeiro como residência e clube privado, atualmente como espaço aberto ao público.

Quando o abastado comerciante e cônsul norte-americano J. Howard March construiu a Quinta Magnólia, na década de 1850, estava a concretizar o objetivo de viver fora do buliço da cidade do Funchal. Ali desenhou os jardins, tirando partido topografia acentuada e transformou o terreno num pulmão verde, que o tempo se encarregou de rodear pela malha urbana.

Em 1895 a quinta é adquirida por Herbert Watney, médico britânico, que amplia os seus limites até ao vale fronteiriço do Ribeiro Seco. Com a colaboração de um jardineiro paisagista inglês, o do jardim é alargado e enriquecido com uma extensa diversidade de árvores e plantas.

Com a introdução de uma crescente “burguesia heterogénea” britânica na ilha da Madeira, as quintas madeirenses tornavam-se espaços de estatutos sociais próprios, de negócio e de poder, de lazer e de ócio. É nesta lógica que na década de 1930 a quinta é novamente vendida. Nasce o British Country Club. É preservada a diversidade botânica mas são introduzidas infra-estruturas e equipamentos desportivos. Entre 1934 e 1974 são organizados vários campeonatos de ténis.

A 1 de Maio de 1981 a quinta, que entretanto se tornara propriedade da Região Autónoma da Madeira, abre pela primeira vez ao público. Recentemente reabriu ao público após uma remodelação.

Recuperando parte da herança deixada pelo British Country Club, pode voltar a jogar uma partida de ténis, desafiar um amigo para um jogo de squash, fazer uma corrida ao longo do circuito de manutenção ou simplesmente respirar o ar de um dos grandes pulmões da cidade.

Ao todo, são oito os campos que se encontram disponíveis – quatro de ténis, três de padel (que vieram a substituir o espaço da antiga piscina), e um de squash. Para o aperfeiçoamento da técnica, dispõe de um pequeno campo de bate-bolas. A sua utilização é feita mediante reserva.

O circuito de manutenção, trilho muito idêntico ao de uma levada tradicional madeirense – chão de terra batida, com alguma rocha e árvores à volta – conta com uma mão cheia de equipamentos destinados à prática de exercício físico. Barras de flexões, pranchas de abdominais, salto ao eixo e paralelas são alguns dos aparelhos que alimentam esta ideia de ‘exercício ao ar livre’.

Ao longo deste caminho pedonal, a ribeira separa o puro e singelo do mundano. Os incansáveis sopros dos estudantes trombonistas da Escola de Artes, vizinha à quinta, fazem-se soar, complementando-se com a brisa do vento que desembaraçadamente percorre os arvoredos que ali se encontram. Dó, Ré, Mi, Fá, Mi, Ré, Dó. Nota acima, nota abaixo.

O circuito passa por debaixo da Ponte do Ribeiro Seco, e longe da vista de quem a diariamente perpassa, um cenário quase bíblico! Sob uma aparente estrutura do final do século XX, está uma outra, toda ela edificada em basalto. Três grandes arcos, centrais de forma elítica e laterais de forma ogival constituem este admirável monumento, construído originalmente em 1849.

E para os mais pequenos, é tempo de se divertir no renovado parque juvenil! Como maior atração, o slide, com 25 metros de pura diversão. Se ninguém estiver a olhar, seja criança por um minuto.

A tradição da quinta como polo de divulgação cultural também se mantém. Na casa-mãe funciona uma nova galeria dedicada à arte contemporânea, um espaço para exposições temáticas, temporárias e permanentes.

Para os apaixonados por plantas, a Quinta Magnólia é um espaço de eleição. Os jardins compreendem uma extensão de quase 25.000 m², dotados de uma expressiva variedade de espécies, algumas de porte centenário, oriundas dos quatro cantos do mundo. Como exemplares de maior interesse botânico, poderá encontrar a majestosa Orelha-de-Macaco, proveniente da América do Sul, o grande Cipreste-chinês que chora, popularmente conhecido por Chorão ou a Vigelia Pinnata, a chamada Árvore-das-salsichas, proveniente de Moçambique.

Mas a especial atenção deve ir para o roseiral ‘Maria do Carmo Santos’. O nome deve-se à antiga diretora da Biblioteca de Línguas Estrangeiras que, durante anos, esteve instalada na Quinta Magnólia e uma das fundadoras do Centro Cultural John dos Passos. Uma vida dedicada à cultura é agora homenageada num roseiral desenhado pelo Presidente do Governo Regional da Madeira e apaixonado por rosas, Miguel Albuquerque.

Palco de grandes festas e eventos, a Quinta Magnólia promete continuar uma tradição que vigora desde sempre. Aqui realizou-se o primeiro festival de Jazz na região, em 2000, e aqui se continuará a fazer história. Para breve entrará em funcionamento um restaurante que completa a oferta de lazer, de acesso livre, todos os dias até às 22:00 horas.


Artigo originalmente escrito em novembro de 2019. Edição n.º 77 - dezembro/janeiro